Em algum momento, o ser em desequilíbrio do aspecto masculino, seja homem ou mulher, se depara com seu egoísmo inerente. Mas o verdadeiro olhar transformador se dá quando há o discernimento de que ele não é tal característica, e a entende como parte natural do ego humano, o qual é igualmente manifestação divina. Compreende-se que é natural da criação que exista o ego, e este se trata de puro eletromagnetismo, onde há dois princípios atuantes: o de atração e o de repulsão. O masculino repele. O feminino atrai.
O indivíduo nota que o aspecto masculino se encontra em desequilíbrio quando se percebe a repelir suas relações afetivas que tentam se aprofundar. Ele se percebe insensível, sem vontade de se relacionar com ninguém. Sua vontade é de sair conquistando tudo e todos, gozar dos benefícios de tais conquistas e não retribuir em nada - uma mistura de egoísmo com preguiça.
Um dos aspectos principais que deseja ser saciado é o sexual. Deseja por conhecer todos os corpos, extrair tudo o que eles têm a lhe proporcionar. Ele deseja apenas ser servido, e quando se depara com relações mais doces e altruístas, tende a desvalorizá-las e querer mais do que elas podem lhe dar. Objetiva algo superficial e carnal, e não uma doação pura. A pessoa em desequilíbrio do aspecto masculino anseia pela perfeição da matéria, pela glória de ter tudo aos seus pés, como uma conquista pelo seu grande poder, afinal, tudo o que busca é o poder. E quando já conquistou, é como se o prêmio perdesse o valor e o brilho, como se tudo fosse efêmero e descartável.
Mas chega o momento que esse aspecto "inferior" começa a se tornar insustentável. Não há mais espaço para ele. Isso se dá por conta da consciência do amor que passamos a ancorar em nossos corações. Quando menos se espera, surge uma dor no peito. Um aperto... feito um nó. Essa dor é o amor, sempre crescente e incessante, a jorrar de dentro do ser, jogando para "fora" a antiga consciência do masculino desequilibrado. É o Yin a balancear o Yang. E dói, porque esse amor tenta fluir com a força de uma barragem, mas ainda encontra resistência na passagem. A energia acaba por se acumular no chacra cardíaco, e este fica obstruído, ocasionando dor física, que se apresenta como uma grande angústia e tristeza. Negar o amor em nós é, e sempre será doloroso.
É inegável que seja doloroso também por conta da percepção de que este jogo está prestes a ruir, a ser desmascarado e apresentado à verdade primordial que sempre esteve presente, mas que por um longo período foi encoberta pelo véu da ilusão. Essa ilusão é a crença da separação, é o que o ego acredita ser - um ser à parte a Deus: sempre neste jogo de repelir o que lhe desagrada e atrair o que lhe satisfaz.
Compreender que não somos o ego é tanto belo quanto doloroso. É compreender que não há nada para repelir e tampouco para atrair. Somos o próprio equilíbrio das duas forças coexistindo uma com a outra. A beleza está no fato de descobrirmos um manancial de recursos inesgotáveis em nós, fruto de sermos um desdobramento da Fonte primordial. A dor se dá por conta de sabermos que, para acessar essa Fonte em todo seu potencial, a outra parte de nós precisará morrer, e de fato, está à beira da morte. A dor é de se deparar com o vazio, de perder tudo aquilo com o qual éramos identificados - nosso, até então, senso de existência.
O ego, através da mente, encontra variadas formas de negar esse vazio. Ele tenta controlar o amor e faz com que achemos que já estamos entregues a Deus, mas, na verdade, guardamos secretamente uma porção do Eu Humano que não queremos abrir mão, geralmente aquela porção com a qual somos mais identificados, a que mais nos gratifica em nossos sentidos humanos, a robustecer a ideia de "Eu".
Nos percebemos incapazes de amar verdadeiramente. Nos percebemos humanos demais. E até nos questionamos com certo desespero: "Será que conseguirei me abrir a esse amor? Pois não vejo condições em mim mesmo." Essa sensação de incapacidade de amar se dá por dois motivos: o medo da morte e o apego aos prazeres humanos. Não queremos, no fundo, abrir mão de tudo. Desejamos ir até um ponto, mas não até o "fundo". Nesse momento despertamos em nós sentimentos de raiva e revolta, a olhar somente aquilo que não temos, e esquecemos de agradecer pelo que já nos foi dado. Esse é outro aspecto do masculino em desequilíbrio, essa insensibilidade e ausência de gratidão para com o que nos é trazido amorosamente pelo Pai. Nosso olhar é de eterna busca, como se fôssemos eternos desbravadores calculistas de um mundo frio, a conquistar o maior número de coisas e pessoas, sem qualquer escrúpulo, sem qualquer afeto.
Identificar esse processo de morte do ego, que em outras palavras é o mesmo que transcender a dualidade em nós, é parte da criação. Já era idealizado pelo Deus Pai-Mãe que este momento chegaria a todos os filhos da criação, com os quais Ele desejou compartilhar de Si e, ao mesmo tempo, por meio dos quais Ele escolheu experienciar a Si mesmo. Portanto, não há para onde fugir. Tudo o que vivenciamos, e que separamos em luz e sombras, são manifestações da intenção dessa Inteligência Universal, que deseja que o conheçamos em sua magnitude, ainda que, ironicamente, isso possa levar uma eternidade!
E o segredo disso tudo, de toda essa experiência, é aprender a olhar para tais aspectos sombrios em nós com naturalidade, sem auto condenação e autonegação. Ao contrário, devemos abraçar nosso Eu Humano com total reverência e compreendendo que tudo se trata apenas de leis naturais da criação. É com esse olhar, de que repelir o mal e atrair o bem são apenas formas como se dá a criação, ou individualização, é que acolhemos essa verdade compreendendo que tudo isso é belo e digno de todo nosso amor incondicional.
Nesta consciência, nos tornamos meros observadores do desenrolar da criação, percebemo-nos muito além do controle de nós mesmos, como canais por onde Deus manifesta a si mesmo.
A vida na Terra é uma grande preparação e iniciação para a vida verdadeira - que é quando trazemos a consciência da Unidade e permitimos que Ele se manifeste em nós integralmente. Nos colocamos a seu serviço apenas a observá-lo experienciando a Si por meio de nossa relação com o mundo. E, por consequência, nesse processo, somos agraciados com toda sorte de bençãos de sermos Deus em ação, a manifestar toda abundância que ser Um com Ele implica.
Para isso, não há lição maior que vimos aprender na Terra que não a da aceitação do amor. Quando aceitamos a Verdade de Deus, a nossa Verdade, nos abrimos humildemente a ela em devoção e entrega, e assim entramos numa nova fase da nossa jornada espiritual, onde viver na Terra terá sido uma escola na qual os aprendizados estarão concluídos, e poderemos transpor as barreiras das dimensões físicas rumo às esferas elevadas, onde reina somente a consciência da Unidade, manifestada através do Amor.
Marcos Pestana
Fonte: www.pazetransformacao.com.br