Derramo lágrimas que descem pelo meu rosto de amor, de cuidado, de zelo por um abacateiro.
Vocês podem pensar que eu realmente fiquei maluca de uma vez, mas venho lhes dizer que sinto isso, e lhes contar a história do abacateiro.
Estive vivendo fases muito difíceis na minha vida nesse último ano. Estive diante de meus maiores medos, onde precisei esvaziar-me por dentro, inserida em uma realidade que era só minha. Distanciei-me de todos, olhei para o meu interior.
Estive nesse tempo, sofrendo as consequências de atos cometidos de forma impensada de minha parte, e que estavam distantes do meu verdadeiro propósito de alma. E então, em um curto espaço de tempo, tive a oportunidade de curar vários aspectos que trouxe para a minha vida, e que me trouxeram sofrimento.
Então veio o abacateiro, para mostrar-me lições maravilhosas de amor, esperança e fé.
Começo pelo dia de hoje, onde me emocionei profundamente ao ver que alguém tinha arrancado o meu pequeno pé de abacate, ainda bebê de uns trinta centímetros, da rua, de onde eu o tinha plantado com muito amor.
Ele simbolizou para mim muita coisa nessa fase intensa que vivi, e hoje sinto por ele imenso amor.
Mas na verdade, esse amor, é aquele amor que eu aprendi a ter por mim mesma.
Hoje, ao ir para o trabalho, observei a cena que me chocou, e já atrasada para seguir o meu caminho e tomar o ônibus, não tive tempo de socorrer o meu pequeno bebê abacateiro. Pedi urgentemente ao meu namorado, que ainda permanecia em minha casa, que resgatasse o meu bebê, colocando-o em um vaso dentro de casa em local seguro, pois tinham arrancado ele da terra com toda a raiz.
Eu mesma não me reconheci ao me observar tão emocionada por isso. Pois isso me afetou o dia todo. Permaneci triste e desconsolada, como se tivessem cometido um ato de extrema crueldade contra o meu coração. Sentia-me com o coração despedaçado. Conectei-me ao abacateiro e senti a sua dor, a sua sensação de abandono e tristeza por estar lá jogado na rua, desprezado e maltratado.
Esse abacateiro pequenino que poucos dias antes morava aqui dentro da minha casa, no berço de quem o cuidou com tanto amor.
Saiu de dentro de um amor belo e puro, de alguém que depositou nele a fé, a esperança e o amor que somente uma mãe e um pai tem por um filho. Criei esse bebê abacateiro com muito amor. E por isso cortou-me o coração ao vê-lo em extremo sofrimento.
Ao chegar em casa, fui ver o meu bebê já resgatado, protegido dentro do berço que o criou, o meu lar, e com as folhinhas todas derrubadas fracas, machucadas. As pontinhas queimadas do sol. Percebi o quanto esses dias na rua devem ter sido difíceis para ele. O quando sofreu.
Então, agora, em lágrimas, escrevo a historia desse abacateiro, que nos traz a lembrança da nossa própria história.
Ele vem nos ensinar que somos como ele. Nascidos do berço do Pai, Criador, e que então nos aventuramos nessa vida, nas experiências das encarnações. Nos machucamos, nos ferimos, e então após tanto esforço e aprendizado nessa vida, somos recolhidos com todo amor pelas mãos do Pai, quando já não nos restam forças para seguir e nos rendemos a ele.
Veio-me em mente a cena do abacateiro caído no chão como que em sinal de rendição. Daquele sentimento de entrega. E é exatamente esse sentimento de entrega que temos dentro de nós quando estamos já cansados da luta. Cansado de brigar contra a vida, cansados de permanecermos indignados por tudo que Deus coloca em nossa vida para aprendermos com as experiências.
Nos entregamos assim como o abacateiro, com o coração ferido, já estamos calejados das experiências as quais trouxemos a nós, para simplesmente ao final descobrirmos que só o que nos faltava era a entrega.
A entrega a Deus, a rendição ao seu amor. Essa seria a solução de todos os nossos problemas. Seria a nossa graça e alegria onde poderíamos viver sem necessidade de sofrimento. Simplesmente com o sentimento de aceitação. Aceitação da vida como ela é. Aceitação do que é colocado diante de nós.
O abacateiro veio ensinar-me essa linda lição. Que foi a historia dele, mas que também é a minha e a de todos nós. Pois todos saímos do berço do Pai. Todos somos sementes de luz. E seguimos a luta pois tentamos ser donos da verdade, donos da razão. Achamos que podemos seguir em frente de acordo com a nossa restrita sabedoria, que não é nada diante da sabedoria Divina. Tomamos os rumos da vida e as decisões com base na nossa curta experiência que é nada mais do que um bebê abacate de trinta centímetros. Nos achamos preparados, poderosos, cheios da razão. Mas na verdade somos esses bebês, e seremos recolhidos sim pelas mãos do Pai, no momento que nos entregarmos a ele com todo o nosso amor e humildade. Às lágrimas, sim, mas com aquele sentimento de que nunca mais estaremos sozinhos, de que todas as novas experiências que vierem a nós, serão guiadas pelo Pai e então seguiremos felizes todos os desafios da vida junto Dele.
Gratidão meu bebê abacateiro.
Michele Martini - 12.Jan.2017
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