Sempre há esperança guardada em nós. Quem afinal não espera por dias melhores? Em ver a manifestação do bem, da paz, do amor no mundo, ou talvez de um dia ser mais rico, mais amado. A esperança está sempre a nos mover, é o que nos mantém, pois se não tivermos a esperança por algo melhor, talvez chegaríamos ao fim.
Mesmo aqueles que não acreditam no melhor, ainda assim continuam a esperar, persistem aguardando por algo, e continuam a se movimentar em busca de sua felicidade. Ainda que não reconheçam a verdadeira felicidade, pois ainda não a descobriram, buscam-na incessantemente vida afora, sem compreender muito bem do que se trata, e sempre a deixando escorregar por entre os dedos.
Mas em cada um há essa energia de se levantar pela manhã seguinte, e iniciar uma nova jornada em busca de experiências, em busca de aprendizados, na esperança de conseguir algo melhor que então o torne pleno e feliz.
Eu sei que essa felicidade é encontrada nos bons momentos, nas alegrias, nas ocasiões em que nos tornamos plenos. Mas em seguida esse sentimento se esvai, porque entramos novamente nas regras, na imposição social, e em tudo aquilo que nos restringe na vida. Voltamos a esperar em busca daqueles momentos de felicidade, perseguindo algo que nem ao menos sabemos muito bem o que é, apenas esperamos e continuamos a busca.
Talvez isso ocorra porque idealizamos a felicidade e a fechamos numa caixa, como se apenas aquilo fosse a felicidade. A própria felicidade se torna uma regra “enlatada” na vida, mais um fardo que buscamos trazer a nossos dias de esperança.
Mas chego à conclusão que talvez o erro esteja aí, em buscarmos por uma felicidade já embalada, embrulhada e pronta. Como um belo presente a nossos dias pelo qual esperamos.
Então me questiono se talvez a felicidade não seja encontrada no dia que simplesmente compreendermos que a vida é um agregar de experiências, que não precisamos vencer, ter, ser, nos incumbir em nada, apenas experienciarmos e agregarmos sabedoria e alegria em nossas vidas. Deixamos de lado a busca pela felicidade, e aprendemos a viver tirando o melhor de cada experiência de nossos dias.
Pois um dia, um sábio me disse, que em debates, ele jamais buscava pela vitória em seus argumentos, por mostrar que seu ponto de vista era melhor. Mas via como um jogo no qual se divertia muito, aonde seu único objetivo era extrair para si próprio uma lição e talvez ao final expor o que havia aprendido. Me disse ser um método quase infalível porque não se fechava ao ego, mas se mantinha apenas buscando o aprendizado. Esse era o compromisso maior, aprender dentro da perspectiva do debate, aquilo que podia agregar à sua vida, buscando a perspectiva daquele que estava a lhe dizer. E assim ele sempre obtinha bons argumentos, e ao final, quase sempre retirava boas lições, por isso amava o debate de ideias.
Talvez a vida seja isso, um mero debate de ideias, de perspectivas, onde cada um tenta demonstrar seu ponto de vista, ao construir sua vida. Mas o erro que cometemos nesse jogo, é querer ganhar e deixar de aprender, buscamos por algo onde a maior vitória é a nossa felicidade, que já está embalada numa moldura rígida, porque temos uma preconcepção do que seja.
É como um debate, onde queremos mostrar que nossa vida é melhor, procuramos acertar na escolha de nossos argumentos, mas nos esquecemos de buscar o aprendizado das lições, obtendo bons argumentos à nossa felicidade naquele momento.
Talvez seja uma maneira de ver a vida, como um debate onde, no fundo, buscamos por argumentos, a nos convencer que fizemos aquilo que estava ao nosso alcance para trazer a felicidade à nossa vida. Mas quão mais fácil seria se, ao invés de buscarmos simplesmente essa felicidade emoldurada em nossa mente, tivéssemos como único objetivo tirar lições, agregando sabedoria e experiências e nos divertir com isso. A vida se tornaria mais suave, leve, porque nos despiríamos de estarmos certos, e aprenderíamos algo maravilho: Ouvir. Mas não ouvir o que nos dizem, e sim o nosso próprio coração.
Pois o aprendizado que me refiro aqui, não é aquele filosófico que está escrito nos livros, mas sim aquele onde estaríamos a todo tempo deixando o nosso coração nos dizer o que aquela experiência está a nos ensinar. Estaríamos buscando respostas, não à nossa infelicidade, mas sim ao fato de estarmos vivos. E isso se tornaria um hábito, ouvir o nosso coração a cada minuto.
E então talvez deixaríamos de ter esperança, porque já não estaríamos preocupados com o resultado do debate, mas apenas em ouvir, em agregar, em trazer respostas ao nosso coração para que ele se torne mais suave, mais leve. Eis talvez a nossa grande pergunta: Como sermos felizes sem buscarmos por dia melhores?
Talvez poderíamos buscar pela esperança a cada sorriso, a cada olhar, a cada amigo que nos cruzar o caminho, e, ao invés de debater por nossa felicidade, buscarmos extrair o melhor desse encontro, confiando, aceitando, mas sempre buscando o mais perfeito a cada segundo. Então esse se tornaria o nosso objetivo maior, ter a esperança renovada várias vezes ao dia, a cada nova experiência, a cada encontro. A esperança retornaria, não pela busca da felicidade, mas sim pela certeza que poderíamos sair daqui melhor do que chegamos, mais sábios, amorosos e coniventes com as verdades da vida. Os argumentos perderiam o sentido, e sequer precisariam existir, pois eles seriam encontrados a cada esquina.
Thiago Strapasson - 02 de abril de 2017.
Fonte: www.pazetransformacao.com.br