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quarta-feira, 5 de abril de 2017

Levar as relações no coração - Michele Martini




Quando eu era criança, gostava de estar na companhia de várias pessoas, que estavam a movimentar o ambiente com energias diversas.


Essas energias geravam uma sensação de acolhimento, de bem-estar, de proteção.

Era a sensação de família. Aquela sensação de que você faz parte de algo, de que não está sozinho. Mesmo que por um momento estivesse sozinha, mas ainda assim estava inserida em um círculo, em uma família.

Penso hoje em como seria se não tivesse havido essa fase em minha vida, que foi tão satisfatória, a preencher o meu coração. Mas que hoje trago em forma de palavras, a lembrança do que é um círculo familiar.

O círculo familiar é a sensação do acolhimento, do fazer parte, da troca energética que aquece o coração. É quando sabemos que pertencemos a algo. É o berço no qual chegamos e iniciamos a nossa experiencia nesse planeta.

Por tanto tempo, carregamos essa sensação no peito, essa busca pelo acolhimento, essa carência e emoção, sem mesmo entendermos de onde surge. Mas apenas sentimos.

Nos deixamos levar pela rotina das nossas vidas, já como adultos, esquecemo-nos por algum momento de que pertencemos a um círculo familiar. Pois estamos convivendo e nos relacionando com pessoas de vários círculos familiares.

O nosso leque de amizades, de relacionamentos, se expande. E é com isso que acabamos por nos afastar daquela necessidade de receber o acolhimento, e que experimentamos na fase da adolescência.

A adolescência passa a ser compreendida como a fase do conflito, onde estamos inseridos no núcleo familiar, sentindo a necessidade de sermos acolhidos e amados, compreendidos. Mas também estamos inseridos na vida externa, estabelecendo novas relações, as quais despertam o nosso interesse, como um coelho que sai da toca a explorar o externo.

Permitimos assim que o nosso coração seja preenchido de novas amizades, emoções, aventuras, sensações. Temos sede de conhecimento, de ir a lugares novos, começamos a cultivar sonhos de ir a lugares, de fazer coisas. Assim é compreendida a fase da adolescência. Onde entramos em conflitos familiares, pois por vezes não somos compreendidos, já que há um minuto atrás éramos apenas parte do círculo familiar. Nossa sede de aventura, de nos jogarmos na vida, briga com a necessidade de receber amor da família.

Percebe-se nessa fase o conflito na mente, o que faz com que nada que seja oferecido pelo núcleo familiar, seja aceito, e sim o adolescente se aventura na vida a abraçar novos desafios a si mesmo. Chega a sede de mudança. A ânsia por uma nova vida, por um novo recomeço. Mas ainda há o conflito familiar, que puxa para perto, enquanto o adolescente quer se jogar para longe, não mais se sentindo compreendido, e por isso gerando conflitos familiares.

Então começa a fase da compreensão, onde os ânimos vão se acalmando, na medida que vamos aprendendo a dosar as experimentações com a necessidade de manter-se dentro do núcleo familiar. Sentimo-nos sozinhos, mal compreendidos, abandonados. E então aquela sensação de estarmos inseridos no núcleo familiar que senti quando criança acaba retornando. Nos sentimos libertos por dentro e sedentos de aventuras, enquanto sabemos que estamos apenas permitindo que a nossa mente viaje enquanto estamos apenas dentro das nossas casas com as nossas famílias.

Deixemos de lado os problemas familiares. Esses são superados de acordo com cada história individual. Cada um experimenta dentro do núcleo familiar o que é necessário para a própria evolução. Nessa fase da convivência entre membros familiares, compreendida pela adolescência, infância e parte da juventude, é quando temos a oportunidade de experimentar e aprender o básico para nos jogarmos na vida. Deixando de lado os julgamentos e os traumas, todas as experiencias são necessárias para a nossa evolução e tudo ocorre da forma perfeita.

Assim passamos por essa etapa turbulenta das nossas vidas, que dará abertura àquela em que experimentaremos as possibilidades de iniciar as nossas vidas fora do núcleo familiar.

Essa fase nos traz a sede de mudança, mas de forma mais racional, mais equilibrada do que antes, ainda que muitas vezes nos joguemos em relacionamentos ou oportunidades de sairmos de casa apenas, sem muita expectativa de como será, mas apenas alimentado a sede da mudança dentro de nós.

Essa fase dá início a outra onde iremos adquirir responsabilidades, agora conosco mesmos. E muitas vezes tentamos dividir essas responsabilidades com outras pessoas, simplesmente por medo. Mas não há nada errado nisso. Apenas não estamos preparados a nos jogar na vida da forma que sonhávamos que seria possível. Quando atingimos um estágio de mais compreensão, percebemos que com ajuda será mais fácil. Então muitas vezes estabelecemos parcerias, ou mesmo relacionamentos, que viabilizarão a nossa vontade de sair de casa apenas.

Estamos entrando em um novo estágio, onde novamente passamos a viver em um novo ambiente, um novo círculo familiar, mas onde os personagens mudaram. São amigos ou relacionamentos amorosos, mas são novos personagens apenas, a ocupar o nosso novo círculo familiar. E então iniciam novos aprendizados. Esses novos aprendizados, vem a complementar o que é necessário para a nossa evolução, e, portanto, não serão perfeitos, mas sim serão oportunidades de aprendizado apenas.

Somos colocados novamente diante de situações onde nos vemos como quando éramos crianças. Inseridos em um ambiente, com outras pessoas, onde mesmo que estejamos sozinhos a viver as nossas vidas e com os nossos pensamentos, ainda assim nos sentimos protegidos, amparados, acalentados, e o mais importante, nos sentimos parte de algo.

Então vem a necessidade de trazer essa sensação cada vez mais forte para as nossas vidas, de resgatar o aconchego do lar, o calor da família, o amor e a troca energética. Estabelecemos metas, casamos, temos filhos. Vamos preenchendo as nossas vidas, a trazer aquela sensação, a mesma que tínhamos quando éramos crianças. E que estamos novamente buscando.

Quando, por alguns momentos, ou dias, nos distanciamos do novo núcleo familiar, que muitas vezes ainda não é uma família, mas sim apenas relações de amizade ou amorosas que estabelecemos dentro de um mesmo lar, quando nos distanciamos por alguns dias dessa rotina, dessas presenças, sentimos aquela mesma sensação de quando éramos crianças, a nos observar novamente inseridos no calor do lar, na troca energética da família.

Essa sensação é a oportunidade de curarmos essa falta, essa necessidade.

Pois o amor, a companhia de outros em nossa volta, deve nos trazer sensações agradáveis, desde que, na falta, isso não nos machuque. Pois não estabelecemos as relações com o objetivo de sofrer com a falta, de nos tornarmos dependentes, e sim de nos sentimos felizes, desprendidos da necessidade da presença do outro.

Vejo tantas perguntas que chegam aos Mestres, e tenho aprendido tanto com as respostas, pois a grande maioria das perguntas tratam de assuntos como relações familiares, entre amigos, e amorosas. As pessoas nunca estão preparadas para ficarem sozinhas, apenas com elas mesmas.

Elas buscam a companhia, o núcleo familiar, de forma a trazer felicidade e satisfação. Mas não percebem em que momento da vida, acabam deixando de lado a própria individualidade, em detrimento de simplesmente fazer parte de algo, de se sentir inserido e acalentado. Acabam colocando ali, naquelas relações, o alicerce do seu equilíbrio. E esquecemos de que todos os seres humanos têm o livre arbítrio. Então, tanto quando um filho sair de casa para iniciar a própria vida, como também quando um par amoroso decide seguir por outro caminho na vida, ou mesmo quando há um desencarne, nunca estamos preparados, e permitimos que esses fatos, que fazem parte da vida, simplesmente como ela é, nos afetem, nos causem depressões profundas, nos tirem a razão de viver, a alegria de viver.

Sofremos porque colocamos expectativas do lado externo, e as vezes mesmo do lado interno. Deixamos de lado o olhar interior para nos apoiarmos em fatos externos, nas rotinas externas, nas vidas das pessoas com as quais nos relacionamos. Nos tornamos dependentes da vida material. Esquecemo-nos de que viemos aqui apenas para viver uma experiencia, e que chegamos sós, e assim também sairemos, após a lição aprendida.

Estabelecemos relações, apenas para que exista uma troca mutua de aprendizado, e que proporcione oportunidade de crescimento para ambos, e nada mais. Assim é a experiencia na Terra. É provisório na matéria, mas eterno no coração. Pois as relações estabelecidas, sejam elas quais forem, sairão daqui conosco em nossos corações. Mas não fazem parte das nossas vidas para nos tirarem dos nossos próprios equilíbrios ou das nossas descobertas de nós mesmos. É algo que vamos levar conosco sempre, de forma leve e alegre, liberta de todo sofrimento, se assim permitirmos simplesmente aceitando o fluir natural da vida. Compreendendo as regras do jogo, da experiencia na matéria como algo provisório pois aqui no planeta necessita se transformar em matéria para que exista a experiencia. Mas que será eterno em nossos corações que são imortais.

E assim é.

Michele Martini - 05 de Abril de 2017.

Fonte: http://www.pazetransformacao.com.br/