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sexta-feira, 9 de março de 2018

A visão poética da vida - Michele Martini



Hoje me deparei com uma cena surpreendente: Estava a meditar ao lado de uma avenida movimentada em uma cidade grande; fechei os olhos procurando encontrar a conexão com o Divino dentro de mim enquanto me deixava embalar pelo som dos carros e pelas notas da música clássica que coloquei a tocar em meu telefone celular.

Quanto é belo o apreciar do som da vida, essa mistura que ocorre das notas musicais com os sons do ambiente. Mergulhei na imensidão do momento presente e senti o que é estar no aqui e agora. O termômetro marcava 30°C, e eu simplesmente não me deixei incomodar. Senti o calor aconchegante do sol, misturado à leve brisa do vento a beijar meu rosto e meu corpo apenas por alguns breves instantes. Um caminhão passou, e em seguida o silêncio tomou conta do espaço, permanecendo apenas as notas musicais de Claire de Lune.


Abri os olhos a observar curiosa a beleza que eu estava a sentir e por rápidos segundos pude notar um homem com sua bicicleta em meio aos carros na avenida a embalar-se com o vento e a força dos pedais em direção a algum lugar, mas algo fez brilhar meu olhar, ele carregava um bebê no braço esquerdo, enquanto com o direito segurava o guidão da bicicleta. A bolsa com os utensílios do bebe a cruzar o seu peito e deitar sobre as suas costas. E assim o bebê, posicionado de forma que possa olhar para trás, por cima do ombro esquerdo do pai, observava o mundo em grande velocidade, que sumia aos seus olhos pequeninos, mas atentos. O bebê acompanhava o movimento da avenida assim como eu, mas a experiência que ele tinha era muito mais intensa, pois ele estava em movimento e a sentir a brisa do vento, a ver os objetos passarem diante de seus olhos em maior velocidade, enquanto ganhava um abraço protetor do seu pai.

Conectei-me ao bebê, e pude observar através de seus olhos a vida, como é a pureza do coração e das emoções de uma criança, sem o controle do medo a recair sobre as suas experiências, o impedindo de apenas sentir e ser feliz.

Percebi como, em sua volta, se formava um escudo de proteção de luz branca, sustentada pela pureza de seu coração. Os olhares das pessoas a passar no trajeto mostravam preocupação, julgamento, indagações.... uma variedade de sentimentos direcionados ao pai e seu bebê aventureiro, mas nada disso era capaz de atingir esses dois amantes da vida, livres e felizes, que seguiram irradiados na luz da confiança em Deus, da pureza dos seus corações, sem medo e apenas a apreciar o momento presente.

Desconectei-me do bebê e abri os olhos novamente a observar a vida como ele observava, para experimentar um pouco da aplicação disso em minha própria vida, e me surpreendi como agora eu podia ver o colorido de cada flor, os tons de amarelo ao longe, de algumas flores que nem sequer antes eu havia notado, mas que agora brilham destacando-se diante dos meus olhos. Agora elas têm a cor mais intensa. Então viro os olhos para o lado e percebo duas borboletas em tons de laranja a voar, e rapidamente sou interrompida pelo canto de um pássaro. Ao fundo noto o verde exuberante das folhas de uma árvore que estava ao meu lado mas que eu não havia notado.

Então novamente os sons dos carros da avenida vem se misturar ao da música clássica. Eles estavam a passar pela avenida durante todo esse tempo, mas eu os incorporei na melodia da vida, os aceitando assim como são, permitindo que façam parte do deleite da vida, e agora apenas parei e os notei, e comecei a perceber como também são belos.

Tudo é belo, tudo se completa na maravilhosa experiência da vida.

Percebo que o estado de felicidade e libertação é apenas um processo de aceitar o que a vida nos oferece, nos inserindo como parte do todo e apreciando a beleza de tudo o que ela manifesta a nós. Pois assim é a vida, e a aceitação de tudo o que ela nos mostra fará com que permaneçamos em estado de libertação e plenitude. Podemos passear pelos vales de sons e cores, na beleza de tudo o que faz parte do todo, do UM. E assim vivemos cada dia de nossa vida em liberdade!

Michele Martini - 09 de março de 2018.

* Esse texto é parte do livro "Os Segredos do Vazio da Mente", que será lançado em breve.

Fonte: http://www.pazetransformacao.com.br/